
Foto: Paulo Nabais
PERGUNTARAM-ME como fiquei louco?
Foi assim:
Há muito tempo, muitíssimo,
muito antes de terem nascido os deuses,
despertei de uma profunda letargia
e reparei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas.
Sim, as sete máscaras
que para mim tinha fabricado e utilizado
nas minhas sete vidas.
Corri sem máscara
pelas ruas cheias de gente
gritando:
- Ladrões! Malditos ladrões!
Homens e mulheres riram-se de mim,
e muitos fecharam-se em casa,
cheios de medo.
Quando cheguei à praça do mercado,
um rapaz que estava de pé
no telhado da casa,
gritou apontando-me com o dedo:
- É um louco!
Ergui os olhos para o ver,
e foi então que o sol banhou
pela primeira vez
o meu rosto despido.
Pela primeira vez
o sol banhou o meu rosto despido
e a minha alma
encheu-se de amor ao sol,
e desde então
nunca mais quis usar máscara.
Depois gritei
como se estivesse em transe:
- Benditos! Benditos ladrões
que me roubaram as máscaras!
Foi assim que me tornei louco.
Encontrei muita liberdade
e segurança
na minha loucura;
a liberdade da solidão
e a segurança de nunca ser compreendido,
porque aqueles que nos compreendem
fazem de nós escravos.
Mas não deixem
que me orgulhe demasiado
da minha segurança;
nem sequer o ladrão encarceradoestá livre de encontrar outro ladrão.
"O Louco"
de
Khalil Gibran
1 comentário:
fixe!
:)
Mais loucos são os loucos que nos julgam loucos só porque não conseguem atingir as nossas loucuras!!
Abraço
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