22 fevereiro 2006

Um Livro à Quarta (VIII)

“O Louco”
de
Khalil Gibran


Aqui está um livro que não dá para descrever, é um livro que cada um tira as suas ilações, a sua aprendizagem.
Todo o livro é composto por esta espécie de poema, todos eles nos põem a pensar.
Escolhi este por ser o primeiro do livro e também porque me faz lembrar o carnaval, onde as pessoas tiram a máscara que usam o ano todo e se revelam como são, ao contrário do que a maior parte pensa: que no carnaval coloca-se a máscara.

PERGUNTAM-ME como fiquei louco?
Foi assim:

Há muito tempo, muitíssimo,
muito antes de terem nascido os deuses,
despertei de uma profunda letargia
e reparei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas.

Sim, as sete máscaras
que para mim tinha fabricado e utilizado
nas minhas sete vidas.

Corri sem máscaras
pelas ruas cheias de gente
gritando:
- Ladrões! Malditos ladrões!

Homens e mulheres riram-se de mim,
e muitos fecharam-se em casa,
cheios de medo.

Quando cheguei à praça do mercado,
um rapaz que estava de pé
no telhado da casa,
gritou apontando-me com o dedo:
- é um louco!

Ergui os olhos para o ver,
e foi então que o sol banhou
pela primeira vez
o meu rosto despido.

Pela primeira vez
o sol banhou o meu rosto despido
e a minha alma
encheu-se de amor ao sol,
e desde então
nunca mais quis usar a máscara.

Depois gritei
como se estivesse em transe:
- Benditos! Benditos ladrões
que me roubaram as máscaras!

Foi assim que me tornei louco.

Encontrei muita liberdade
e segurança
na minha loucura;
a liberdade da solidão
e a segurança de nunca ser compreendido
porque aqueles que nos compreendem
fazem de nós escravos.

Mas não deixem
que me orgulhe demasiado
da minha segurança;
nem sequer o ladrão encarcerado
está livre de encontrar outro ladrão.

9 comentários:

isabel disse...

Bom dia!

Já li esse ivro e gostei muito.
Detesto máscaras. As máscaras são para o os mortos.
O que dizes é realmente verdade, no dia-a-dia todos andamos mascarados, é triste, a autenticidade desaparece para dar lugar ao que é estudado, aprendido, decorado, no fundo para dar lugar ao que se quer ser e não aquilo que realmente se é.
Desculpa se está confuso.

Beijinho

M.M. disse...

Conheces Osho? Talvez gostem também!
Um beijinho.

merdinhas disse...

"O louco perdeu tudo menos a razão"

Anónimo disse...

Nunca li este livrro, mas pelo o que dizes também deve ser fantástico... vou tentar que alguém me empreste :) :) Um beijinho, gmc

Vanessa disse...

magnifico!

Camarelli disse...

excelente! vou apontar

Sofia Pinheiro disse...

Quando percebemos que as mascaras são uma prisão e não uma protecção, estaremos loucos? Não me parece...
Bonito poema!

JNM disse...

Boa proposta.

Já leste o Profeta?

Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! » » »